POR QUE CRIAMOS UM BLOG?

Este blog é uma iniciativa nossa, das/os educandas/os da Associação da Casa Familiar Rural de Candói - PR.
Nossa intenção é divulgar a organização da CFR, os estudos, as propostas pedagógicas, as experiências, os cursos dos quais participamos, as visitas de estudo, as atividades técnicas, os desafios que temos, em fim, a nossa caminhada juntamente com as nossas famílias, a Associação CFR, as/os educandoras/es, os monitores, as parcerias e demais companheiras/os que trabalham conosco na ACFR e na Casa Familiar Rural.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

DEPOIMENTO DE VANDANA SHIVA - O TEMPO E O MODO



"Vandana Shiva alia a física quântica ao ativismo social para resistir pacificamente a um sistema que considera ter colonizado a terra, a vida e o espírito. Conta-nos como começou a defender a floresta, as sementes e os modos de vida e produção locais contra o controle-e o registro de patentes feitos pelas multinacionais.
A análise de Shiva vai mais além: remete-nos para as profundas implicações que o sistema capitalista patriarcal tem na construção de um mundo desigual, com consequências dramáticas, como a fome ou as alterações climáticas, que, para Shiva, são sintomas de implosão de uma civilização que falha material e espiritualmente. A nossa civilização, para sobreviver, terá de rever o seu modelo de compreensão e de interação com o mundo, tendo como exemplo o conhecimento holístico das civilizações chinesa e indiana, que, para Shiva, sobreviveram à História essencialmente porque diferem do Ocidente na relação que estabeleceram com a natureza."

Quando eu me juntei ao Movimento Chipko, fundado por camponesas da minha região, que diziam: “terão que nos matar primeiro antes de matarem as árvores”, daí a ação de abraçar a árvore, para proteger. “As florestas dão-nos tudo”, disseram, “dão-nos água, combustível, pasto e alimento”, já que são as florestas que geram o adubo orgânico para as terras de cultivo. Dão-nos os nossos medicamentos e as nossas raízes espirituais, estas são as nossas desusas-mãe. A destruição destas florestas leva a deslizamentos de terra e a termos que caminhar mais tempo para transportar água. Elas conheciam perfeitamente a ciência de destruição ecológica.
             Quando aderi ao movimento a força mais poderosa parecia ser o governo, e ainda assim apenas a nível regional, nada acima. O governo federal não interferia e não existiam empresas de escala global. Os poderes mais influentes eram os empreiteiros e o governo local e lidar com eles era o que exigia mais determinação. Foi o que fizemos. Em 1981 as florestas foram protegidas e a extração de madeira nos Grandes Himalaias foi proibida por razões ecológicas. Não poderia ter imaginado na altura que daí 30 anos o mundo teria se tornado comercialmente integrado e consequentemente tão espiritual e culturalmente fragmentado como é hoje. Que seres humanos pudessem vir a ser tão brutalizados, quer as vítimas deste sistema explorador, quer aqueles que o infligem, porque é preciso estar-se brutalizado para que se tente acumular os recursos dos outros. Não havia forma de prever a instbilidade política e econômica que se  verifica num país atrás do outro, na Grécia, Irlanda, Espanha, Itália, Portugal ou nos EUA, que continuam a fingir estar bem apesar da sua elevada instabilidade. Nem a mais vívida imaginação me teria feito lá chegar.
               Há 500 anos atrás os reis e as rainhas da Europa pensaram que deviam enviar os seus mercantes aventureiros para todo o mundo. A ascensão de uma religiosidade altamente fundamentalista foi usada para justificar esta conquista, veja-se a bula papal de 1492... Piratas foram enviados para todo o mundo com a justificativa de “civilizar os incivilizados”. A bula papal dizia: “ide e conquistai terras que não sejam governadas por príncipes brancos e cristã”. Claro que só na Europa é que haviam brancos, isto significava todo o mundo.
O que está acontecendo hoje em dia é uma recolonização, em muitos sentidos. Assim como na altura a colonização foi movida pela ânsia de poder, violência e ganância, hoje é movida pelos mesmos interesses. Houve um conceito jurídico criado na altura para justificar aquilo, a chamada terra nullius, a terra vazia. Onde quer que se fosse, se lá existissem seres humanos, simplesmente negava-se a sua humanidade. Os aborígenes da Austrália não eram aborígenes, os indianos não eram de fato indianos, eram mais como cães. Nos livros da época os indianos eram representados como tendo cabeças de cão. Porque praticávamos yoga e uma série de outras coisas, era óbvio que não podíamos ser seres humanos normais, havia algo muito retorcido em nós.
               Hoje em dia, não só a “terra vazia” como também a “vida vazia”, em temos de biodiversidade e recursos naturais, estão a ser colonizados. Uma das razões pelas quais fundei o movimento Navdanya em 1987 foi porque na época fui convidada para uma conferência de biotecnologia sobre as novas tecnologias emergentes que visavam modificar recursos vivos, e toda a indústria química, que agora se auto denomina “indústria das ciências da vida”, asumiu que tinha de criar todo um novo sistema através da criação de patentes, como detentores da vida, e para isto teriam de investir em engenharia genética, para que pudessem dizer que eram agora inventores e criadores de vida nova, e além disso, era preciso remover restrições em termos de mercado, investimentos e de leis. Para isto deram forma ao que se chamou a Ronda Uruguai do GATT, que mais tarde se tornou a Organização Mundial do Comércio. Foram eles próprios que redigiram as leis, já que eram simultaneamente paciente, médico e terapeuta. Definiram como problema os agricultores guardarem as sementes.
               Para mim, tendo passado toda a minha infância com biodiversidade, com meu pai e minha mãe, e a minha juventude como estudante na Chipko, a defender a biodiversidade, para mais tarde na vida ouvir: “esta biodiversidade é nossa propriedade”, foi uma ideia tão obcena, tão violenta, que foi então que decidi que era isto que iria defender, a vida na sua diversidade, por qualquer meio que me inspirasse.
               Há apenas duas formas de reivindicar direito de propriedade sobre a vida: ou se rouba à natureza, negando-lhe a criatividade, ou se rouba às culturas que evoluíram e descobriram árvores como as neem, que são formidáveis para controlar pragas, ou as sementes que os agricultores desenvolveram. A Índia tinha 200 mil variedades de arroz. Chamamos a este processo de apropriação e neo-colonização, biopirataria. Tínhamo-lo previsto, mas começou realmente a acontecer. Em 1984 tinha começado uma campanha chamada: “Chega de Bophals, plante neem”, porque na Índia, numa cidade chamada Bophal, tivemos um vazamento numa fábrica de pesticidas, da Union Carbide, em 2 de dezembro. Nesta noite o vazamento de gás matou três mil pessoas, entretanto morreram outras 30 mil com danos tóxicos. “Mas nós não precisamos destas armas de extermínio na agricultura”, disse, “quando temos as neem para controlar as pragas sem qualquer outro dano”.
               Dez anos depois descubro que uma empresa chamada Grace, juntamente com o Departamento de Estado para a agricultura dos EUA, dizia: “nós somos os inventores do neem”. Perguntei-me se  a minha vó teria estado a dormir... Não saberia a minha mãe, quando as usava em nossas roupas ou no nosso feijão-verde, o quão maravilhosa era esta planta? E os agricultores que as usavam? Resolvi desafiar esta patente. Organizei uma grande campanha, recolhi 100 mil assinaturas de camponeses, praticantes de medicina tradicional e ativistas e levei-as ao Gabinete Europeu de Patentes acompanhada por duas outras mulheres, a líder dos Verdes na Europa e a líder do Movimento Orgânico Internacional. Juntas desafiávamos a maior superpotência e uma das maiores empresas químicas mundiais. Demorou onze anos, mas vencemos. Depois tivemos em 1998 o caso das patentes do Basmati. Basmati quer dizer “rainha do aroma” e é um arroz pelo qual o meu vale, o Vale de Dun, é muito famoso. O  Basmati dehraduni é o de maior qualidade.
               Uma empresa vinda do Texas chamada Rice Tech, adiciona-se “tech” ao nome e de repente se torna o inventor, afirmou então ter inventado o arroz, a planta, o aroma, a forma como é cozinhado, tudo. Enfrentamos o desafio. Neste caso lutei através do supremos Tribunal Indiano e de um movimento nos EUA. Dissemos-lhes: “Se não revogarem esta patente, teremos que vos rebatizar ‘Gabinete de Roubo e Pirataria dos EUA”. Porque se chamam “Gabinete de Registro e Patentes dos EUA”. Funcionou, e eles desistiram da maior parte do que queriam.
               Pouco tempo depois descobrimos que uma antiga variedade de trigo indiano tinha sido patenteada pela Monsanto. Os trigos indianos têm muito pouco glúten. Muito ocidentais têm alergia ao glúten porque o seu trigo foi tão otimizado para produção industrial que isso levou a um aumento do nível de conteúdo de glúten, resultando em alergias. A Monsanto pensou “Isto é um grande mercado, o dos alérgicos ao glúten, podemos vender bolachas e tudo...” Patentearam a planta do trigo, o seu baixo conteúdo de glúten, e a farinha, as bolachas ou qualquer outro produto feito a partir dele. Desafiámo-los também, neste caso a patente foi revogada.
               Existem atualmente outras duas grandes fontes de casos de mega-pirataria. Uma delas é a apropriação indevida de medicamentos indianos. Começamos a tomar nota e descobrimos nove mil patentes relativas a tudo aquilo de usamos no nosso cotidiano. E ainda, devido às alterações climáticas, há também o saque das culturas resistentes ao clima, que os agricultores criaram. No Rajistão, uma região desértica, e noutras partes da Índia, os agricultores desenvolveram culturas altamente resistentes à seca. Agora as companhias estão a registrar patentes de tolerância à seca.
               A nossa linha costeira tem variedades de aroz com uma elevada tolerância ao sal. Quando tivemos o ciclone Orissa nos anos 90, guardávamos estas variedades e distribuímo-las aos agricultores para que pudessem dedicar-se de novo à agricultura. Um ciclone traz água do mar, o que torna as terras salgadas e impróprias para o cultivo, a menos que se tenha arrozes resistentes ao sal. Os nossos agricultores cultivaram esse arroz e depois doaram dois caminhões de sementes às vítimas do tsunami em Tamil Nadu, fazendo com que também estes recuperassem. E vinha agora estas empresas afirmar que tinham inventado a tolerância ao sal.
               Temos arrozes lindos que crescem mais de cinco metros nas terras de aluvião do Ganges. Tolerâncias às cheias é outra coisa que estão a patentear. Culturas resistentes ao clima são invenções sua como se fossem produto da engenharia genética, quando na verdade são produto da pirataria, uma forma usual de comunicação...
               O padrão de crescimento, que está definido como crescimento, para criar a acumulação de capital típica dos nossos tempos, fracassou nos países que o criaram.  Não seria muito inteligente imaginar que um modelo que falhou nos países onde nasceu tivesse de repente sucesso em países para onde foi transportado, em termos de sustentabilidade. Sim, durante alguns anos, num mundo altamente instável, veremos que enquanto o Ocidente sofre um declínio econômico, veja-se a agora a Europa a implorar a China que salve o Euro, haverá países como a China que por terem um enorme excedente comercial, desempenharão um papel de potência econômica e financeira internacional.
               Neste sentido, a distribuição desigual de poder entre Norte e Sul, ou entre o Ocidente e Oriente alterar-se-á um pouco. Mas porque o modelo é intrinsecamente injusto e insustentável, estes países, a China e a Índia, através da sobre-exploração dos seus recursos e a marginalização maciça da sua população, criarão instabilidade a nível ambiental, econômico e político, internamente. Já estamos a ver sinais disso.  A Índia e a China são agora internacionalmente mais importantes como parte do G20 ou dos B.R.I.C.K., mas no entanto, internamente, há milhares de revoltas. Na China há 100 mil manifestações por causa da terra, todos os anos. Na Índia há um número semelhante. Um terço da Índia não é governada pelo estado e ascensão, e essas áreas estão em expansão porque o processo pelo qual se criou este crescimento é tão injusto que as pessoas estão a se revoltar.
               Há um ponto para além do qual as forças armadas não conseguem controlar a rebelião, e para além do qual um crescimento artificial de 9% não consegue trazer de volta os nossos rios e a nossa comida. Se olharmos para a Índia de hoje  vemos uma elevada taxa de crescimento mas uma capital de fome. Um em cada quatro indianos passa fome, uma em cada duas crianças indianas é desperdiçada... O que significa que metade do futuro da Índia já foi apagado. A nossa água e terra estão a desaparecer, a própria base de sustentação que conservou estas civilizações. E a índia e a China são duas das mais duradouras civilizações mundiais. As outras civilizações históricas desapareceram. Sobrevivemos porque respeitávamos a terra, usávamos pouco e sabíamos conceber uma vida feliz sem que isso passasse pela exploração da terra. Agora pedem-nos para pagar a conta ambiental, e isto está sendo um enorme fardo para os recursos e a população indiana, e esse crescimento é do meu ponto de vista um crescimento negativo, se olharmos para o que as pessoas e a Natureza perderam.
               O que são afinal as alterações climáticas senão a autodestruição da civilização? O que é a extinção das espécies, o esgotamento da água ou a poluição tóxica, senão autodestruição? Está acontecendo diante dos nossos olhos. No que diz respeito ao conforto material, estas afirmações de que produzimos mais comida através dos agroquímicos tóxicos ou que usaremos a engenharia genética para produzir mais comida, mas o que é este fato? Temos milhões de pessoas esfomeadas e dois milhões de obesos. Uma pessoa obesa não se sente confortável. Uma pessoa com fome não se sente confortável. Olhem-se para o número dos sem abrigo. Nem uma sociedade do mundo alguma vez teve pessoas sem abrigo. Recolhia-se palha, umas canas de bambu, talvez umas pedras e tinha-se uma cabana. Veja-se o número de pessoas da América, nas ruas da Índia. Tudo o que proclamou criar habitação, criou-se sem abrigo, o que iria proporcionar comida criou fome, o que ia criar emprego criou desemprego. É um fracasso material que, claro, é também um fracasso espiritual.
               Esta incapacidade de pensar a nossa evolução espiritual, que nos leva a uma concepção de crescimento limitada destinada ao fracasso, deve-se a duas coisas: uma baseia-se na ganância, a ganância daqueles que a promoveram e a ganância desencadeada naqueles que consomem. A sociedade de consumo é necessária para nos impingirem todos estes produtos inúteis, esta cultura tóxica de plástico. As pessoas pensam que vivem melhor porque têm três vestidos manhosos ou cinco sapatos péssimos que se estragam em cinco dias comparados com os sapatos resistentes que um bom sapateiro pode fazer e que vão durar dez anos. Ou estes sáris cosidos á mão que são intemporais, alguns eram da minha mãe. Nunca saem de moda, nunca perdem a cor. É preciso estar na moda. Se é roxo este ano, como é que se pode vestir laranja?
               Esta obsolescência nos é incutida até na forma como pensamos. Nos tornamos em consumidores estúpidos ao fazermos parte disto. É assim que a sociedade consegue anestesiar a nossa dimensão espiritual. A segunda é que a globalização transformou a ganância e a competição em credos. A competição está inscrita nas regras da Organização Mundial do Comércio e a ganância está inscrita nos mecanismos com que se lucra a qualquer custo, que é a razão de ser das grandes empresas. Põe-se as corporações e a sua lógica lá em cima, a humanidade cá em baixo, e transforma-se o lucro e a ganância em valores mais elevados do que a partilha, a proteção, a evolução e o crescimento espiritual, individual e coletivo.
               Significa que basicamente criamos seres humanos truncados. Seres humanos truncados que não são felizes, deprimidos. Olha-se para a quantidade de Prozac necessária para manter esta “economia em alto crescimento” a funcionar. Vamos ter simplesmente de encontrar outros caminhos...
               Se olharmos para o mundo de hoje, o que vemos é uma tendência recente, com umas poucas centenas de anos, para o mundo ser moldado de acordo com um projeto masculino. De uma forma muito consciente o conhecimento foi definido como masculino por pessoas como Francis Bacon. A economia foi redefinida em termos de bens transacionáveis, e a partir das quais se pode obter lucro. Cozinhar para os filhos, ir buscar água, cuidar de um pai idoso, isso não é trabalho, não é produtivo, não contribui para a economia.
               É quando se compara o que se precisa e se vende o que se produz, que há crescimento. Por um lado tem-se na ciência uma forma dominante de conhecimento que é muito mecanicista e redutora. Por outro, na economia há esta ideia que a produção começa e acaba no mercado, o que apagou totalmente a inteligência da Natureza e a sua enorme força criadora, na polinização, na gestão do ciclo hidrológico, na renovação da fertilidade do solo.
               Para onde quer que olhemos há tanto acontecimento, abelhas zumbem, a água circula e uma gota que se evapora do Oceano Índico pode ir cair em Portugal. Toda esta enorme criatividade, produção, reprodução e regeneração, foi apagada. Quanto às mulheres, que são a maior força laboral e produtiva do planeta, as que mais cuidam dos outros, de repente o seu trabalho deixou de ser trabalho, agora as mulheres não trabalham. As mulheres podem contribuir para a resolução das múltiplas crises que enfrentamos, fruto deste pensamento mecanicista e deste sistema econômico altamente alienado e artificial, que começou por tornar o capital real e a realidade ilusória, que concedeu personalidade às empresas e transformou pessoas reais em não-pessoas.
               Esse processo está agora atingindo a maturidade e o colapso econômico que vemos à nossa volta é resultado disso. Colapso ecológico, catástrofes climáticas, extinção de espécies, entre 200 e 300 espécies desaparecem por dia. O próprio homem tornou-se a maior força neste planeta, mas neste modo capitalista e patriarcal, transformou-se numa força destrutiva.
               As mulheres querem ser uma força, mas uma força criativa, pacífica e não-violenta. o que elas trazem são outras formas de conhecer que foram subjugadas, formas ecológicas, holísticas, relacionais, um tipo de conhecimento que agora está sendo validado pelo melhor da ciência. Todo o trabalho que desenvolvi em mecânica quântica, quando ainda trabalhava como física, era sobre não-localidade, não-separabilidade, pois não se pode cortar o mundo aos bocados. Todo o trabalho que as mulheres fizeram numa economia de cuidado terá agora de se tornar realidade. Ou se tem 80% de desemprego sob uma economia centrada nas finanças e nas corporações, ou se diz: não, isso não é economia! Economia é preservar a vida na Terra, é proteger todas as espécies do Planeta.
               Protegemos os recursos que esta terra generosa nos continua a oferecer desde que nos vejamos como parte dela. Acima de tudo, precisamos de uma economia de cooperação entre as pessoas. Esta competição está nos matando, e ela provém desta forma militarizada, masculinizada de pensar que tem sido uma distorção do sentido que damos ao ser-se humano. A violência não é um indicador de humanidade, mas de desumanidade. A ganância e a acumulação de bens não são medida da nossa humanidade, a partilha e o cuidar é que o são!         Esses são os valores que as mulheres trazem para formar o mundo determinado apenas pela convergência do patriarcado com o capitalismo.
               Uma das coisas que tenho aprendido é a dispender muita energia a trabalhar com pessoas, com sua bondade, a criar solidariedade. E, claro, o milagre diário da vida a desenrolar-se. Vida em que se pisa a relva e ela se ergue de novo, em que se planta uma semente e ela germina. Esse milagre e a beleza que trazem consigo, são para mim uma inspiração poderosa. A beleza nas pessoas, na cara enrugada da camponesa que tem orgulho na sua floresta, na sua água, na sua semente, que tem a determinação de dizer: “Esta é a minha vida e não vou desistir”.
               É através da minha capacidade de análise que tenho consciência da gravidade da situação. Como costumo dizer, dado que tenho uma educação em inglês e estudos em física, sei falar ingês, a língua dominante, e sei como fazer contas, outra linguagem de domínio. Portanto não sou dominada, sou capaz de lidar com as mentiras, sei que 2 + 2 são 4 e não 20, e quando a Monsanto diz que são, sei como lidar com eles. Também não me levo demasiado a sério, sei que sou uma pequena partícula e que é meu dever fazer certas coisas. Como diz o Bhagavad Gita, o nosso belíssimo texto: “Tens de fazer o que é certo, mas não te cabe a ti determinar o desfecho”. Esse desapego comprometido, essa capacidade de nos entregarmos apaixonadamente a um assunto e ao mesmo tempo de nos distanciarmos do resultado tem me ajudado a lidar com algumas das mais agressivas forças dos nossos tempos. Os meus pais me ensinaram a nunca temer. Diziam-me: “Segue a tua consciência  e nunca terás de ter medo.”
               Olho para o futuro, e olho da minha perspectiva quântica, com grande incerteza. Existem duas possibilidades. A possibilidade de continuarmos no caminho onde estamos, com cientistas doidos querendo fazer geo-engenharia, que primeiro estragam o planeta com alterações climáticas e que depois dizem “Nós tratamos disto”.
                A apropriação de recursos e território que isso acarreta poderá levar-nos rapidamente á extinção. Neste caso estou certa que a Terra prosseguirá o seu curso. Enquanto espécie podemos desaparecer, mas como na Índia acreditamos na reencarnação, a extinção da espécie humana não será o final da vida. Somos uma unidade, os vermes e os micróbios e tudo o resto, são um de nós.
                A segunda possibilidade é a de que se opere uma mudança rápida na nossa consciência, uma mudança rápida de quem somos. Seria um salto apoiado pela maioria, porque a maioria das mulheres não acredita neste saque e nem sequer tem a oportunidade de o levar a cabo. A maior parte dos 95% a quem foram retirados direitos estão formando um novo mundo, e querem um outro mundo, querem paz, partilha, outras formas de organização política e econômica.
               Essa deslocação tectônica está acontecendo debaixo das estruturas de poder, agitando a base. Quando mudança ocorrer, podemos vir a estar muito rapidamente numa situação muito diferente como espécie.
               A nossa época tem sido designada como a era do Antropoceno, em que a humanidade tem sido uma força destrutiva do planeta. O clima é determinado pelas nossas ações, a sobrevivência das espécies, a água, a fertilidade dos solos são determinados pelas nossas ações. Se continuarmos por aí, não sobreviveremos. A alternativa é mudarmos para o Antropoceno criativo, movido por uma energia feminina, pela energia das civilizações não-ocidentais, e da sua espiritualidade, a energia dos povos indígenas, da própria Terra e da sua diversidade. É basicamente reconhecermos que somos parte da vida e que podemos continuar a ter futuro se reconhecermos o simples fato de que não somos donos, conquistadores ou senhores da Terra, mas parte da terra.
     Vandana Shiva – Realização: Graça Castanheira – Assistente de realização: Levi Martins – Popfilmes 2012. Para asistir o Documentário AQUI.
               Transcrição: Sergio Bucco

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Homenagem ao 3º Ano Técnico em Agroindústria da CFR 2013

Educador@s: Sergio - Lilian - Amilton - Kelly - Tádia - Rosenildo 





Educand@s...


Educand@s...

Algumas imagens/vídeos que fizemos para o encerramento do ano letivo de 2013 e que agora partilhamos, inclusive, para os próprios Educandos que estiveram nos anos anteriores conosco. Lembramos que sentimos saudades de cada um/a com quem trabalhamos. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

ASSEMBLÉIA ORDINÁRIA DA ACFR DE CANDÓI

No dia 13/08/14 aconteceu nas dependências da CFR uma Assembléia Ordinária, onde estiveram presentes, além de Educadores, Monitores e Educandos, representantes do NRE de  Guarapuava, Elizangela, Henri e Maria Regina.  Prefeito e Vice Prefeito Municipal de Candói, Gelson Costa e Jeferson Morandi. Secretários, Adilson Kruk (SMEC), Junior Ivatiuk (SMA), Sergio Vargas (SM). Vereadora Sandra Santos (PT). EMATER, Sergio Folda.  Cresol. Sindicato Rural Patronal (Ana Quadros), dentre outros.

Os pontos da Pauta foram as ferramentas da Pedagogia da Alternância, o Regimento Interno da CFR, debate sobre os pontos em que a CFR avançou na organização e aqueles a serem melhorados, a entrega do novo veículo (da PMC) para a ACFR e da ampliação do prédio da CFR.






















Por Sergio Bucco 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

PEDÁGIO AMBIENTAL DA CFR EM CANDÓI

                Por Sergio Bucco  
      
Alusivo à SEMANA e ao DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE, @s Educand@s da Casa Familiar Rural (CFR) de Candói realizaram um pedágio na Av. Anízio Pedro da Luz, em frente à Delegacia da Polícia Militar. Estiveram na realização do Ato, além de Educandos/as do 2º ano Técnico em Agroindústria, também alguns Educadores, como Deisi Mari, George, Maurivan e eu, que passando pelo local fiz alguns registros fotográficos que posto abaixo.

Chovia, mas nos@s heróis não se intimidaram para realizar parte do processo de Educação ambiental. Não que se deva apenas realizar ações ambientais nesta data, mas é um momento alto dentro da preocupação de frear as ações humanas desastrosas, que aos poucos vão levando o Planeta Terra ao caos, à destruição, à degradação, à insustentabildade.














          

quinta-feira, 5 de junho de 2014

XI FESTA REGIONAL DAS SEMENTES CRIOULAS: PRODUZIR, MULTIPLICAR E PARTILHAR

Seguem algumas imagens da participação da CFR de Candói ao evento acima referido, na cidade de São Jorge D'Oeste/PR.



Abertura do evento. AS-PTA presente!




Colégio Estadual do Campo Pio XII, presente!

CFR Candói presente!














CFR Candói, presente!

EMBRAPA Pelotas RS presente!